Texto extraído do livro "Coimbra – Degraus do Mondego", edição sob o alto patrocínio do Governo Civil de Coimbra
É uma longa história a que se escreve ao Centro do País. Baluarte poderoso na difícil gestação da nacionalidade, soube ser brilhante na enfabulação de tramas onde o amor se entretece em dramas e histórias de heróis.
A seu favor estiveram sempre o relevo e a sábia estratégia de ocupação dos solos. Mas são também estas, passando o paradoxo, a sua maior vulnerabilidade. O resultado é um distrito pleno de contrastes: a um lado as rochas argilo-arenosas e calcárias. Planícies e colinas ou pequenas serras. A outro, xistos, quartzites, granitos. Montes, serras, vales abruptos, altas montanhas. Penhascos, ravinas. E são ainda dunas e areias escaldantes. E planícies, por onde se estende o Campo de Coimbra e sai o Baixo Mondego, onde o rio provocou cheias impiedosas. Hoje mais disciplinado, deixou nateiros, ínsuas, terras de aluvião.
Um distrito onde a vizinhança do mar e a existência de massas montanhosas, das quais a mais importante é a serra da Lousã, provocam diferenças climáticas. A um clima temperado, de características basicamente mediterrâneas, opõe-se o interior, fustigado pelas neves, com consideráveis amplitudes térmicas. É frequente as quantidades de precipitação e o degelo, serem responsáveis pelo aumento dos caudais dos rios que atravessam a região - onde a água é soberana. Apontem-se o Ceira, o Alva, o Anços, frenéticas cordas de água, mansas ribeiras e o Mondego, fonte de riqueza desde tempos imemoráveis. Via de comunicação privilegiada, trampolim para o contacto com outras ideias e pessoas, linha de defesa imbatível, mas cruel na desgraça, quando transbordava e tomava tudo. A Aguieira e outras albufeiras cortaram-lhe o ímpeto e continuam a usurpar-lhe divisas.
E outro contraste se afirma por força das condições morfológicas: a oposição entre as terras próximas do litoral, em regime de regadio, e um interior montanhoso, de sequeiro e solos pobres nas terras altas, onde só esforços obstinados permitem a sobrevivência e arrancam alguma riqueza à terra. É o contraste entre as possibilidades de emprego e a facilidade de comunicações e as áreas de difícil acesso, a interioridade. os parcos recursos, o êxodo das populações - emigração e migração para os grandes centros e litoral -, a desertificação. A grande diversidade de condições geográficas explica e fundamenta as variações de densidade populacional que diminuem do litoral para o interior. Os números esclarecem: a Figueira da Foz tem 148 hab./km2, Montemor-o-Velho, 110 hab./km2 e a Lousã 94 hab./km2.
Distrito que apresenta uma forte componente rural. Mas também aqui a dicotomia: um interior pobre, a Gândara, enquanto a Bairrada é ubérrima, com os seus afamados vinhos, o Campo de Coimbra fecundo e na Baixa do Mondego abunda o arroz e o milho. O secundário ocupa 26,4% da população mas afirma-se como sector em expansão. O sector terciário constituía principal ocupação da gente activa e é Coimbra a sua maior expressão, não fosse ela cidade universitária. Mas se a etnografia afirmou diferenças, hoje vão-se esbatendo. O tempo e a massificação da moda, apagou-as. Dos diversos trajares, só mesmo no mundo rural tem expressão difusa. Não se notam já as diferenças entre camponeses, pescadores, gandareses, bairreses, tricanas ou futricas. Resistem, contudo, o cachené garrido, o chapelinho redondo das gandaresas, o xaile traçado sobre o ombro esquerdo, o chapéu de aba da mulher do campo, o avental arrendado e bordado das mulheres de Buarcos.
Da mesma forma se diluíram as diferenças nas formas de falar e nas canções de trabalho. As modas de roda são o aspecto mais característico do folclore regional e algumas ainda são recordadas em certas ocasiões, sobretudo nas fogueiras de S. João. Vetustos edifícios ou os simples palheiros da Tocha e da Praia de Mira dão lugar aos prédios cosmopolitas e o artesanato sofre a voragem dos plásticos.
O Distrito de Coimbra é formado por 17 concelhos: Arganil, Cantanhede, Coimbra, Condeixa-a-Nova, Figueira da Foz, Góis, Lousã, Mira, Miranda do Corvo, Montemor-o-Velho, Oliveira do Hospital, Pampilhosa da Serra, Penacova, Penela. Soure, Tábua e Vila Nova de Poiares e Coimbra, a terceira mais importante cidade do país.